A adoção de serviços de streaming nos lares brasileiros continua crescendo, revelando uma transformação significativa no consumo de conteúdo audiovisual. Conforme dados divulgados nesta sexta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a presença do streaming alcançou 42,1% das casas com televisão no país, reforçando uma tendência que tem impactado diretamente na redução do uso da TV tradicional.
O estudo, parte do suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), destaca que dos 78,3 milhões de domicílios no Brasil, cerca de 4,5 milhões não possuem televisão, o que representa 5,7% do total. Esse número é mais que o dobro do registrado em 2016, quando apenas 2,8% dos lares não tinham TV, indicando uma mudança gradual, mas evidente, nos hábitos dos brasileiros.
Gustavo Geaquinto Fontes, analista da pesquisa, aponta que isso “pode ser uma mudança de hábitos da sociedade. Lenta, de forma muito gradual, mas consistente“, destacando o crescente desinteresse pela TV tradicional, substituída pelo acesso a conteúdos via internet.
A TV por assinatura também registra uma queda significativa na sua presença nos lares brasileiros. Em 2016, cerca de 33,9% das residências tinham TV paga, percentual que caiu para 25,2% em 2023, equivalente a 18,6 milhões de lares. A principal razão para o declínio é a falta de interesse, citada por 64% dos entrevistados, superando o custo do serviço, que foi o motivo mais apontado até 2019.
Outro dado interessante da pesquisa é o aumento do uso de vídeos online como substituto da TV por assinatura. Enquanto em 2016 apenas 1,6% das famílias justificaram a migração para serviços online, esse percentual subiu para 9,5% em 2023, consolidando o streaming como uma das principais alternativas para o consumo de mídia no país.
Desde 2022, o IBGE monitora a presença de streaming de vídeo pago nos domicílios brasileiros. Os números revelam um aumento de 31,061 milhões de lares em 2022 para 31,107 milhões em 2023. Apesar do crescimento absoluto, a participação percentual do streaming em lares com TV caiu de 43,4% para 42,1%, sugerindo uma saturação do mercado.
Ainda assim, o impacto do streaming no consumo de mídia é inegável. A pesquisa indica que 6,1% dos lares com streaming em 2023 não possuem acesso a TV aberta ou paga, contra 4,7% em 2022, um sinal claro de que mais brasileiros estão optando por serviços on-demand, que oferecem flexibilidade e uma vasta gama de conteúdos, como filmes, séries e esportes.
Leonardo Quesada, analista do IBGE, observa que “o streaming não responde tudo. Ele pode responder uma parte, mas existe uma possibilidade de as pessoas estarem usando menos TV“, ressaltando a complexidade da transição em curso.
A pesquisa também expõe uma disparidade regional no acesso ao streaming. Enquanto quase metade dos lares no Sul (49%), Centro-Oeste (48,2%) e Sudeste (47,6%) possuem canais de streaming pagos, nas regiões Norte e Nordeste esses números caem para 37,5% e 28,2%, respectivamente. Essa desigualdade reflete o impacto das diferenças socioeconômicas e de infraestrutura entre as diversas regiões do Brasil.
Além do crescimento do streaming, a pesquisa destaca a redução no uso de antenas parabólicas tradicionais. Em 2023, cerca de 772 mil lares brasileiros (1% dos domicílios com televisão) ainda utilizavam parabólicas analógicas, uma queda em relação aos 911 mil registrados em 2022. A substituição por mini parabólicas digitais é impulsionada pela interferência do sinal 5G, e faz parte de uma política pública que visa modernizar o acesso ao sinal de TV aberta no país.
Esses dados indicam uma transformação no panorama do consumo de mídia no Brasil, com o streaming assumindo um papel central nas residências, enquanto a TV tradicional, seja aberta ou por assinatura, enfrenta um declínio contínuo.