35 anos sem Raul Seixas: o legado do “Maluco Beleza” na música brasileira
Raul Seixas, falecido há 35 anos, deixou um legado imortal no rock brasileiro, influenciando gerações com sua música inovadora, filosofia libertária e colaborações icônicas.
Nesta quarta-feira, 21 de agosto de 2024, o Brasil marca 35 anos desde a morte de Raul Seixas, um dos maiores ícones do rock brasileiro. Falecido em 1989, aos 44 anos, Raul deixou um legado inigualável, caracterizado por sua fusão única de rock com elementos da cultura brasileira e por letras que exploravam temas filosóficos, espirituais e sociais. Conhecido como o “Maluco Beleza”, Raul é lembrado não apenas por suas músicas, mas também por seu impacto cultural, que transcendeu gerações.
Antes de se consolidar como um dos maiores nomes do rock nacional, Raul Seixas começou sua carreira como produtor musical na gravadora CBS (atual Sony Music). Durante esse período, ele compôs diversas músicas para outros artistas, utilizando o codinome Raulzito. Sua experiência como produtor foi moldada pela decepção com o fracasso comercial do álbum Raulzito e os Panteras (1968), o que o motivou a buscar novas formas de expressão dentro da música.
Foi nessa fase que Raul se tornou colaborador de nomes importantes da Jovem Guarda. Jerry Adriani, por exemplo, gravou sucessos como “Tudo Que É Bom Dura Pouco” e “Doce, Doce Amor”, ambas compostas por Raul. Odair José, conhecido como o “terror das empregadas”, gravou a canção “Tudo Acabado”, enquanto a cantora Diana deu voz a “Ainda Queima a Esperança”. Essas colaborações ajudaram a consolidar Raul Seixas como um compositor versátil e inovador, capaz de transitar entre diferentes estilos musicais e públicos.
Ascensão e impacto cultural
Na década de 1970, Raul Seixas deixou de ser apenas um nome nos bastidores para se tornar um dos maiores astros do rock brasileiro. Seu álbum Krig-Ha, Bandolo! (1973) é um marco dessa transição, com hits como “Ouro de Tolo” e “Metamorfose Ambulante” que capturaram o espírito de uma geração em busca de mudanças. Em parceria com o escritor Paulo Coelho, Raul criou a Sociedade Alternativa, um conceito baseado nos ensinamentos do ocultista Aleister Crowley, que influenciou profundamente sua obra e sua vida.
O álbum Gita (1974) consolidou ainda mais sua posição, vendendo mais de 600 mil cópias e colocando Raul no centro da música popular brasileira. Canções como “Gita” e “Sociedade Alternativa” se tornaram hinos de uma geração que buscava liberdade e autoconhecimento em uma época marcada pela repressão política no Brasil. A combinação de rock com elementos da música nordestina, como o baião, fez de Raul um artista único, capaz de falar para o povo de uma forma que poucos conseguiram.
Raul Seixas, além de ser um artista singular na música brasileira, foi profundamente influenciado por uma variedade de fontes que moldaram sua visão de mundo e sua obra musical. Essas influências variaram desde a cultura popular nordestina até filosofias esotéricas e místicas, criando uma combinação única que permeou suas canções e a persona que ele construiu ao longo dos anos.
Raul nasceu em Salvador, Bahia, e desde jovem foi exposto à rica cultura nordestina. Artistas como Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga foram influências fundamentais em sua formação musical, algo que é evidente em sua habilidade de incorporar elementos do baião e do forró em suas músicas de rock. Ao mesmo tempo, Raul Seixas era fascinado pelo rock and roll americano, especialmente por ícones como Elvis Presley e Little Richard. Essa dualidade entre as raízes brasileiras e a influência do rock americano tornou sua música distintamente brasileira, mas com apelo universal.
Um dos aspectos mais fascinantes da vida de Raul Seixas foi sua criação da Sociedade Alternativa, ao lado do escritor Paulo Coelho. Inspirada pelos ensinamentos do ocultista britânico Aleister Crowley, a Sociedade Alternativa defendia a ideia de “Faz o que tu queres, há de ser tudo da Lei”, promovendo a liberdade individual absoluta e a rejeição das normas sociais convencionais. Esse conceito permeou várias de suas músicas, especialmente em álbuns como Gita e Novo Aeon.
Além disso, Raul Seixas era profundamente interessado em misticismo e esoterismo, temas que frequentemente apareciam em suas letras. Sua canção “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás” é um exemplo claro de sua exploração de temas espirituais e filosóficos, enquanto “Al Capone” e “O Dia em que a Terra Parou” refletem sua fascinação com temas apocalípticos e revolucionários.
Curiosidades e legado póstumo
Raul Seixas era uma figura complexa, repleta de curiosidades que ajudaram a cimentar sua imagem de “Maluco Beleza”. Por exemplo, ele fundou o Elvis Rock Club quando adolescente, um grupo de jovens em Salvador que imitava o estilo de Elvis Presley, demonstrando sua paixão precoce pelo rock. Durante sua vida, Raul enfrentou problemas com o alcoolismo e a diabetes, condições que o acompanharam até sua morte prematura em 1989.
Após sua morte, Raul Seixas continuou a ser uma presença influente na música e na cultura brasileira. Em 2008, ele foi eleito o 19º maior artista da música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil, superando outros gigantes como Milton Nascimento e Maria Bethânia. Suas músicas continuam a ser regravadas e reinterpretadas por novos artistas, demonstrando a relevância contínua de sua obra.
Além disso, sua filha Vivi Seixas seguiu uma carreira na música eletrônica, mantendo vivo o legado do pai em um novo estilo musical. Curiosamente, apesar de seu status icônico, Raul Seixas sempre se viu como um outsider, alguém que nunca se encaixava completamente nas normas estabelecidas, mas que, precisamente por isso, conseguiu falar diretamente ao coração de milhões de pessoas.
Legado e comemorações
Trinta e cinco anos após sua morte, Raul Seixas continua a ser celebrado como um dos maiores artistas da música brasileira. Suas letras, muitas vezes filosóficas e repletas de referências esotéricas, continuam a ressoar com novas gerações, mantendo vivo o espírito rebelde e questionador do “Maluco Beleza”. A data de sua morte, 21 de agosto, é marcada por homenagens em todo o país, incluindo a tradicional Passeata Raul Seixas – Dia da Saudade em São Paulo, onde fãs se reúnem para cantar suas músicas e celebrar sua vida e obra.
Raul Seixas deixou um impacto tão profundo que, mesmo após três décadas e meia de sua morte, sua presença ainda é sentida na música, na cultura popular e na memória coletiva dos brasileiros. Sua capacidade de misturar o tradicional com o inovador, o popular com o filosófico, fez dele um artista verdadeiramente único. Seja através das suas músicas que continuam a ser cantadas por jovens e adultos ou através das homenagens e eventos que perpetuam seu legado, Raul Seixas permanece imortalizado como o “Maluco Beleza”, um gênio que nunca se conformou e que, por isso, jamais será esquecido.
Sua obra permanece viva, tanto nos discos que continuam a ser vendidos quanto na memória coletiva de milhões de fãs que, ano após ano, pedem nas rodas de violão: “Toca Raul!”
Show histórico no Festival “Música na Praia” (1982)
Durante o festival “Música na Praia”, realizado entre 7 e 14 de fevereiro de 1982 na Praia do Gonzaga, em Santos, Raul Seixas protagonizou uma das performances mais memoráveis de sua carreira. No dia 13, perto da meia-noite, Raul subiu ao palco diante de um público estimado em mais de 100 mil pessoas, entregando um show que se tornou icônico, transmitido ao vivo pela TV Cultura. A apresentação, que incluiu sucessos como “Rock do Diabo”, “Maluco Beleza” e “Sociedade Alternativa”, é lembrada como um dos momentos mais intensos do “Maluco Beleza” em ótima forma.
O show foi seguido de uma homenagem a Elis Regina, que havia falecido menos de um mês antes. Em sua memória, uma luz permaneceu sobre o microfone no palco enquanto o público, emocionado, acendeu isqueiros e entoou a canção “Fascinação”. Esse momento histórico, agora restaurado e disponibilizado como uma homenagem aos 78 anos de Raul Seixas, é um presente aos fãs que mantêm sua memória viva.
Confira o show completo e restaurado, incluindo um setlist repleto de clássicos, disponível no vídeo a seguir. Toca Raul!