“Ainda Estou Aqui”: filme com Fernanda Torres é o candidato brasileiro ao Oscar 2025
O filme já acumula elogios em festivais internacionais. Em Veneza, “Ainda Estou Aqui” foi aplaudido por mais de dez minutos após sua exibição.
A Academia Brasileira de Cinema escolheu o filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, como o representante brasileiro na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025. O longa é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva e conta com atuações marcantes de Fernanda Torres e Selton Mello, abordando a trajetória de uma família que enfrentou de perto os horrores da ditadura militar no Brasil.
A trama central gira em torno de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, e a luta dela para descobrir o paradeiro de seu marido, Rubens Paiva (Selton Mello), um engenheiro civil e ex-deputado federal sequestrado e desaparecido durante o regime militar no início da década de 1970. O filme explora a força de Eunice, que, enquanto lidava com a ausência do marido e a criação dos cinco filhos, se tornou uma figura fundamental na defesa dos direitos humanos no Brasil.
Relevância histórica
A escolha de Walter Salles para adaptar essa história é significativa. O diretor, conhecido por sucessos como “Central do Brasil” (1998) e “Diários de Motocicleta” (2004), tem uma longa trajetória de filmes que lidam com questões sociais e humanas profundas. Em “Ainda Estou Aqui”, Salles retrata a coragem de Eunice Paiva, trazendo à tona a memória de uma mulher que se destacou por sua determinação em um período de grande repressão política no Brasil.
O reencontro de Fernanda Torres e Walter Salles é outro ponto alto do projeto. Eles já trabalharam juntos nos aclamados “Terra Estrangeira” (1995) e “O Primeiro Dia” (1998), ambos filmes que, assim como “Ainda Estou Aqui”, trataram de questões existenciais e sociais. A presença de Fernanda Montenegro, mãe de Fernanda Torres, também é um destaque. Ela aparece nas últimas cenas do filme, interpretando Eunice em seus anos finais, em uma das raras colaborações com Salles desde “Central do Brasil”. Montenegro já foi indicada ao Oscar, e sua atuação histórica em “Ainda Estou Aqui” eleva ainda mais o prestígio do filme.
Elogios internacionais e caminho para o Oscar
O filme já acumula elogios em festivais internacionais. Em Veneza, “Ainda Estou Aqui” foi aplaudido por mais de dez minutos após sua exibição, e o roteiro, escrito por Murilo Hauser e Heitor Lorega, recebeu o prêmio de Melhor Roteiro. Fernanda Torres emocionou o público e já é apontada como uma possível candidata ao Oscar de Melhor Atriz. O jornalista Pete Hammond, do portal Deadline, ressaltou a performance de Torres como uma das mais fortes do ano, afirmando que o longa de Walter Salles está entre os principais filmes da temporada de festivais.
Além de Veneza, o longa também teve uma recepção calorosa em Toronto e está previsto para ser exibido no Festival de San Sebastián. A Sony Pictures, distribuidora do filme, confirmou o lançamento nos Estados Unidos em novembro de 2024, garantindo sua elegibilidade para o Oscar. A estratégia é semelhante à usada para “Central do Brasil”, que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1999 e deu a Fernanda Montenegro uma histórica indicação na categoria de Melhor Atriz.
Uma história de resistência e humanidade
Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, “Ainda Estou Aqui” é mais do que uma obra cinematográfica sobre um momento político sombrio do Brasil. É um retrato íntimo e emocional de uma mulher que, mesmo diante de um destino devastador, se ergueu como uma voz de resistência e justiça. Eunice Paiva, uma advogada e ativista dos direitos humanos, dedicou sua vida a descobrir o que aconteceu com seu marido, que foi brutalmente silenciado pelo regime militar.
Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme, revisita a história de sua mãe com um olhar que mistura memória e história pessoal. Para Walter Salles, a adaptação deste livro foi um projeto especial, pois ele tinha uma ligação pessoal com a família Paiva. Em entrevistas, Salles destacou que o desafio maior foi transformar o profundo relato literário em uma obra cinematográfica que fizesse jus à intensidade emocional da narrativa. Ele ressaltou ainda que o filme não é apenas uma homenagem à família Paiva, mas uma reflexão sobre o Brasil e as marcas que a ditadura militar deixou na sociedade.
A estreia de “Ainda Estou Aqui” está prevista para novembro de 2024 no Brasil, gerando grandes expectativas tanto no mercado nacional quanto internacional.