Televisão

Ali Kamel deixa comando do jornalismo da Globo após 14 anos

Ali Kamel, principal nome do jornalismo da TV Globo, vai deixar a emissora em dezembro após um ciclo de 22 anos. O executivo ocupava o cargo de diretor-geral de jornalismo desde 2016, mas já era responsável pelo setor há quase 15 anos. Seu cargo será assumido por Ricardo Villela, seu segundo no comando desde 2021.

Nesta terça-feira (29) a Rede Globo de Televisão confirmou a informação. De acordo com Paulo Marinho, diretor-presidente da Globo, o próprio Kamel pediu para sair. Disse que gostaria de desacelerar. Assim que deixar o cargo, assumirá a posição de Coordenador do Conselho Editorial do Grupo Globo, criada especialmente para ele.

Ali Kamel de 61 anos foi responsável por algumas das principais mudanças no departamento. Foi dele a ideia de fazer sabatinas com os candidatos à presidência ao vivo no Jornal Nacional, desde 2002, as entrevistas com os políticos estão entre os principais momentos que antecedem a eleição.

Com a saída de Ali Kamel e a promoção de Ricardo Villela a diretor-geral de Jornalismo, a Globo passará por uma dança das cadeiras nos bastidores. O cargo de diretor-executivo de Jornalismo, atualmente ocupado por Villela, passará para Miguel Athayde, atual diretor da GloboNews. Vinícius Menezes, hoje diretor regional de jornalismo no Rio de Janeiro, assumirá o comando do canal pago de notícias. Seu cargo ficará com Marcio Sternick, chefe de Redação da rede desde 2015.

Confira o comunicado na íntegra sobre a saída de Ali Kamel

William Bonner
Imagem: Reprodução/Globo

“Caras equipes,

Em julho do ano passado, Ali Kamel procurou a mim e ao João Roberto Marinho para falar de planos para o futuro. Após intensos 34 anos dedicados a funções executivas no Grupo Globo, 22 deles na Globo, disse que gostaria de desacelerar. Passada a surpresa inicial, já que Ali está no auge de sua capacidade de pensar jornalismo e gerir redações, procuramos entender suas motivações. Em primeiro lugar, o desejo de experimentar uma rotina diferente da exigida pelos desafios diários dos cargos de liderança em jornalismo.

Ao Ali, nunca faltou entusiasmo pela profissão. Seu grau de comprometimento e dedicação sempre foi extremo, sua lista de realizações, enorme. Era natural que chegasse o dia em que desejasse mais tempo para outras atividades. Em segundo lugar, a certeza de ter desenvolvido profissionais capazes de seguir praticando um jornalismo baseado na pluralidade, isenção e busca pela apuração precisa dos fatos. Ali é um construtor de equipes. Tem uma rara capacidade de explanar cada movimento, sempre amparado em análise minuciosa de fatos e opiniões. E essa qualidade facilitou muito a elaboração de sua sucessão, da qual falaremos mais adiante.

Esta é, afinal, uma parceria difícil de abrir mão. Ali sempre foi um companheiro sereno, íntegro, decisivo. Ao longo dos últimos 22 anos, coordenou a cobertura de seis eleições presidenciais e cinco eleições municipais. Entre tantos projetos, como Caravana JN, JN no Ar, O Brasil que Eu Quero Para o Futuro e Brasil Em Constituição, foi dele também, em 2002, a ideia ousada de entrevistar os candidatos à presidência durante o Jornal Nacional, algo até então inédito e que hoje se tornou um evento central, aguardado e muito esclarecedor das campanhas eleitorais. Em todos os grandes eventos, nacionais e internacionais, pudemos sempre contar com a certeza de que, com ele à frente, nosso jornalismo cobriria os fatos com a qualidade que desejamos.

Mas, quem conhece bem o Ali sabe que, de todas as coberturas nesses anos todos, a que lhe demandou mais, profissional e emocionalmente, foi a da pandemia. Justamente quando o jornalismo seria mais necessário e nossas equipes mais exigidas, as condições de trabalho impostas pela realidade eram as mais duras. Sob sua liderança, os telejornais cresceram de tamanho, um programa diário dedicado à pandemia foi criado do zero em 24 horas, o espaço do noticiário disparou. Colegas adoeceram.

Em meio a tanto empenho de todas as equipes, Ali, além da minuciosa supervisão do trabalho jornalístico em si, passou a incluir duas novas tarefas em sua rotina. Diariamente, escrevia ou telefonava para os colegas doentes ou seus parentes em buscas de notícias de um a um. E, à noite, enviava a todos um relatório intitulado Nossos Colegas, com um balanço transparente dos doentes e recuperados. Muitos colegas nossos se lembram com emoção desse gesto.

Após deixar a direção-geral de Jornalismo da Globo, as atividades diárias e as funções executivas, Ali, a convite de João Roberto Marinho, assumirá a posição agora criada de Coordenador do Conselho Editorial do Grupo Globo. Numa conversa recente, João, que preside o Conselho com grande engajamento, resumiu assim sua decisão: ‘Trabalho junto com o Ali desde o início da década de 1990, uma relação profissional de muita confiança e respeito. Ao convidá-lo para me ajudar no Conselho, minha ideia é continuar a contar com sua capacidade de reflexão e análise. Estou convencido que será muito positivo para todo o grupo’.

Para suceder ao Ali como diretor-geral de Jornalismo a partir de primeiro de janeiro de 2024, convidamos um companheiro que esteve ao lado dele nestes anos mais recentes. Ricardo Villela chegou à Globo em 2005, após dez anos de experiência no jornalismo impresso com passagens pelo Jornal do Brasil e pelas revistas Veja e Playboy. Foi editor de política, editor-executivo e editor-chefe do Jornal da Globo. Coordenou o Jornal Nacional e chefiou a Redação de São Paulo antes de assumir a direção de Jornalismo da Globo em Brasília.

Como o Ali Kamel, viveu em Brasília algumas das coberturas mais relevantes de sua vida. Ali dirigia a redação de O Globo na capital em 1992, no impeachment de Fernando Collor. Villela dirigiu a Redação da Globo em Brasília durante os turbulentos anos de 2013 a 2018. Em 2019, transferiu-se para o Rio e, desde 2021, tem ajudado Ali de perto como diretor-executivo de Jornalismo.

Para o lugar de Villela, convidamos Miguel Athayde, diretor da GloboNews. Miguel é o que podemos chamar de prata da casa. É jornalista da Globo desde 1994. Foi produtor dos jornais locais do Rio, editor-executivo e editor-chefe do Bom Dia Brasil. Em 2012, foi convidado a assumir a direção regional de jornalismo do Rio, posição em que comandou coberturas importantes como a preparação da cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Desde 2018, Miguel dirige a GloboNews, onde liderou a cobertura das eleições no ano passado e ampliou a cobertura ao vivo para 20 horas diárias.

Durante os próximos meses, Ali, Villela e Miguel trabalharão juntos na transição.

Em meu nome e da minha família, agradeço ao Ali pelos anos de dedicação e empenho que tanto nos ajudaram a escrever a história da Globo até aqui.

E desejo a ele, ao Villela e ao Miguel sucesso nas novas funções nos anos que estão por vir.

Paulo Marinho

Diretor-presidente da Globo”

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Caroline Gouveia

Caroline Gouveia Fortino 22 anos, formada em Jornalismo pela Faculdade das Américas (FAM). Redatora e produtora de conteúdo dos portais N10 notícias e Todo Canal, com experiências no Notícias da TV e Metropoles na coluna do Leo Dias.

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