Uma performance icônica e cheia de significado foi restaurada e está disponível para os fãs da música brasileira. Jerry Adriani e Raul Seixas, dois gigantes da música nacional, interpretaram juntos a canção “Doce, Doce Amor”, composição de Raul, no Programa Jota Silvestre, exibido pela TV Bandeirantes em 11 de outubro de 1983. Este momento histórico foi preservado e agora pode ser apreciado por novas gerações graças aos esforços de restauração.
No programa Jota Silvestre, durante o quadro “Esta é a Sua Vida”, Raul Seixas fez uma surpresa a Jerry Adriani, revisitando sua parceria musical dos tempos em que Raul, ainda conhecido como Raulzito, era produtor na CBS. Juntos, eles cantaram “Doce, Doce Amor”, famosa canção composta por Raul.
A restauração deste vídeo foi possível graças ao trabalho minucioso de João Antonio Franz, que se dedicou a recuperar as imagens e o áudio desta apresentação histórica. O arquivo original foi gentilmente cedido por Thadeu Vivas, parte do Acervo Jerry Adriani.
A canção “Doce, Doce Amor”
A música “Doce, Doce Amor”, interpretada pelo cantor brasileiro Jerry Adriani, é uma expressão lírica da busca incessante por um amor perdido. Lançada em 1971, durante o auge do movimento da Jovem Guarda, a canção reflete a simplicidade e a emoção característica dessa época. A letra fala de um amor que se foi sem explicações, deixando um vazio e uma série de perguntas sem respostas. O refrão repetitivo “Doce, doce amor, onde tens andado” evoca a sensação de saudade e a necessidade de reencontrar o ser amado. Essa simplicidade e melodia cativante são marcas registradas das músicas de Jerry Adriani, um dos ícones da Jovem Guarda que ajudou a moldar a identidade musical daquela era.
A verdadeira ideia de Raul Seixas
Embora muitos possam ver “Doce, Doce Amor” como uma típica música romântica da Jovem Guarda, a verdadeira inspiração por trás da canção é bem mais profunda. Grande sucesso gravado por Jerry Adriani, a música é de autoria de Raul Seixas e Mauro Motta. Segundo o site Memorial Raul Seixas, a canção foi composta logo após a instituição do AI-5 (Ato Institucional Nº 5) pelo Regime Militar em 13 de dezembro de 1968. Esse ato suspendeu várias garantias dos brasileiros e concedeu poderes extraordinários ao Presidente da República.
Raul Seixas, já envolvido em questões políticas na época, ficou profundamente abalado pela situação. Segundo Jerry Adriani, Raul lhe apresentou “Doce, Doce Amor” pouco depois da implementação do AI-5. Nos versos da música, Raul lamenta a perda da liberdade: “Está fazendo uma semana que, sem mais e nem menos, eu perdi você. Mas não sei determinar ao certo qual foi a razão, meu bem. Vem me dizer.” O “Doce Amor” perdido na canção é uma metáfora para a democracia perdida no Brasil sob o regime autoritário.
Raul Seixas não era apenas um talentoso intérprete, mas também um prolífico compositor cujas criações foram interpretadas por diversos artistas da música brasileira. Além de “Doce, Doce Amor”, Raul compôs “Tudo que é bom dura pouco” para Jerry Adriani. Outras composições notáveis incluem “Ainda queima a esperança” para Diana, “Playboy” para Renato e Seus Blue Caps, e “Convite Para Ângela” para Leno. Sua habilidade em criar músicas que ressoavam profundamente com outros artistas e o público solidificou seu status como um dos maiores compositores do Brasil.
